A educação é um ponto nevrálgico de qualquer área no Brasil, por razões históricas e estruturais. Os problemas são tanto de conteúdo como em relação ao comportamento. Números confirmam isso: 38% dos alunos no Ensino Superior no Brasil são analfabetos funcionais, de acordo com o Indicador de Analfabetismo Funcional. Mesmo os que dominam o conteúdo, muitas vezes  pecam pela passividade, pela falta de capacidade de relacionar os conteúdos e usá-los de forma útil.

Este quadro torna fundamental a formação continuada nas empresas. Mas esta educação não pode ser feita nos mesmos moldes que a tradicional, que já se mostrou ineficaz. Por isso, as empresas procuram novas formas de ensinar e desenvolver comportamentos em seus funcionários. Uma destas formas são os jogos de empresa.

Historicamente, jogar e brincar sempre foram uma forma de aprendizado. Mas enquanto as crianças brincam apenas por prazer, os adultos, dentro de sua vida profissional, usam o jogo como uma ponte para algo que vai além dele: a conscientização de sua postura diante de situações específicas.

Jogos de empresa possibilitam a vivência de experiências paralelas ao mundo rotineiro e têm vantagens evidentes:

  • dão distanciamento crítico, porque a pessoa se retira do dia a dia para vivenciar outra lógica, e quando retorna ao cotidiano percebe problemas culturais que antes eram dados como naturais e intransponíveis;
  • evidenciam condutas normalmente veladas (preconceitos, estratégias viciadas etc) e com isso possibilitam atuar sobre elas;
  • oferecem novas perspectivas sobre determinados fatos e/ou características pessoais, explorando potencialidades que no dia a dia ficam adormecidas.

 

Existem jogos competitivos e cooperativos. Os competitivos objetivam a vitória de uma pessoa ou grupo sobre outra pessoa ou grupo. Porém, no treinamento é importante não usar o jogo para reforçar o poder e a hierarquia que existem na empresa. Ele deve possibilitar a descoberta de novos talentos no grupo ou de outras facetas nos participantes. Se for um grupo formado por funcionários de níveis hierárquicos diferentes, é enriquecedor colocar alguém mais fraco em situação de poder e vice-versa. Desta forma, os participantes descobrem as fragilidades e potencialidades de cada cargo ou situação de poder.

Os jogos cooperativos são aqueles em que todo o grupo vence. O adversário não é outra pessoa ou outro grupo, mas um problema que deve ser solucionado. Este tipo de jogo é ideal para integrar equipes e também para evidenciar as vantagens do relacionamento ganha-ganha.

Tanto jogos competitivos quanto os cooperativos podem ser usados de forma positiva em um treinamento, mas é importante perceber que jogos transmitem valores, não só por seu conteúdo como também por sua estrutura. “Monopoly”, por exemplo, mesmo em sua versão ecológica (com material reciclado), é baseado na lógica capitalista tradicional, do século XX, ou seja, acumular para enriquecer. “Negócio Sustentável”, um jogo de tabuleiro criado por uma consultora financeira de São Paulo, alia competição e cooperação, usando a lógica do ganha-ganha. Neste jogo, a vitória individual depende da sustentabilidade do mundo e para atingi-la os participantes precisam ajudar os outros a realizarem seus próprios negócios.

Por tudo isso que foi dito, incorporar jogos em treinamentos nas empresas qualifica o aprendizado e melhora sensivelmente o relacionamento interpessoal, mas a escolha da forma e do conteúdo dos jogos deve ser feita criteriosamente e cada jogo precisa ter um propósito de desenvolvimento.

Referência

http://www.estadao.com.br/noticias/impresso,no-ensino-superior-38-dos-alunos-nao-sabem-ler-e-escrever-plenamente-,901250,0.htm

*Texto produzido originalmente para o Grupo de Estudos de Treinamento e Desenvolvimento, da ABRH-RS.