Prometeu e Epimeteu eram deuses titãs, da mesma geração de Cronos, contra o qual lutaram ao lado de Zeus. Mas não por isso eles se tornaram best friend ever! Acontece que os irmãos Prometeu e Epimeteu, além de cantar música sertaneja, gostavam dos mortais e os protegiam da soberba de Zeus. Foi por isso que, certa feita, roubaram o raio divino (a investigação dos deuses não é das melhores, por isso não se sabe ao certo qual dos dois irmãos foi o autor da façanha) e jogaram para os mortais, que com isso puderam começar a se aquecer e a cozinhar os alimentos.
Zeus ficou furioso com o roubo e quis castigar a dupla. Pediu para Hefestos (o deus artesão, responsável por fazer instrumentos e armas para os olimpianos) fazer a primeira mulher mortal. Sim, até então não existia mulher entre os mortais. Vocês podem imaginar o tédio e a bagunça que era isto aqui??? Pandora – era este seu nome – teria todos os dons (pan=todos + dora=dons): beleza, inteligência, sedução, delicadeza e… curiosidade. Ofereceu Zeus este mulherão a Prometeu, como sinal de seu perdão. Mas Prometeu, que não era besta nem nada, viu que se tratava de uma armadilha. O presente, então, foi oferecido a Epimeteu, o irmão bocó, que prontamente aceitou o souvenir divino.
Romântico, Epimeteu levou Pandora para passear em seu barco e disse que ela poderia fazer tudo, menos abrir determinada caixa. A mortal fez tudo o que podia (olhou para lá, para cá, para lá de novo, para cá de novo… o que se faz em um navio???) . Lá pelas tantas, ficou entediada e resolveu fazer o que NÃO podia. Afinal, um de seus dons era a curiosidade e ela queria saber o que tinha ali! Então ela abriu a tal caixa e de lá saíram todas as desgraças da humanidade: fome, pestes, violência, baratas, contas a pagar, papelada para preencher… Quando ela percebeu a bobagem que fez ela imediatamente disse: “Ups!” (em grego clássico!) e fechou o pote. Lá ficou apenas a esperança, e é por isso que se diz que a esperança é a última que resta. Epimeteu, com isso, recebeu o castigo de Zeus e, de quebra, tornou a vida dos mortais bem mais problemática. Obrigada, querido!
Quanto a Prometeu, acabou sendo acorrentado em uma rocha no meio do mar, aonde todos os dias um abutre vinha comer um pedaço de seu fígado, que sempre se recompunha. Era uma dor constante e previsível que Prometeu precisava aguentar, já que ele era imortal.
Vamos à compreensão deste mito. Primeiramente, Prometeu e Epimeteu representam duas posturas diante da vida e o mito deixa isto bem claro nos nomes: Prometeu significa “aquele que vê adiante” e Epimeteu é “aquele que vê depois, ou que só aprende depois de experimentar”. Ou seja: Prometeu é aquele que planeja, estuda, faz análise preliminar de risco, medita, se controla. Epimeteu age por impulso, vive “la vida loca”, fica com um mulherão, mas não sabe atrair sua atenção (não, isto já é outra coisa… foco!).
Mas a verdade é que nenhum dos dois deuses se dá bem na história, não é? É porque mitologia não é historinha fácil, é tudo complexo! Quer moral da história procura conto de fadas ou fábula!
A minha interpretação deste mito – especialmente conectando com empreendedorismo – é que não basta planejar, amar, ter o desejo de fazer o bem para que um empreendimento dê certo. Ou melhor, a raça humana até deu certo, mas não como eles planejavam e Prometeu, especialmente, teve que pagar um preço muito alto por sua ousadia. Então, o que o mito parece estar dizendo é que é preciso resistir, persistir, porque o preço que se paga ao lutar contra os poderosos, ao defender uma ideia, um produto ou um grupo social, é muito alto, realmente muito alto. Se você quer empreender, prepare-se para a guerra!
O fígado de Prometeu, que se recupera a cada dia para ser novamente devorado, ilustra muito bem a resiliência do empreendedor; se o abutre comesse uma parte e ela não se recuperasse, em poucos dias o deus estaria morto, e morto estaria o problema do desejo e da rebelião. Mas um sonho não morre, nem a percepção da injustiça, por isso o fígado se recupera e a luta continua.
Pandora – sim, também aqui a mulher é a origem dos males da humanidade – causa uma desgraça com sua curiosidade, mas mantém na caixa a esperança. Mas o que a esperança estava fazendo na caixa junto com as desgraças??? Está claro: para os gregos a esperança é uma desgraça!
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