O que é um líder? E como se faz um líder? Ou melhor, um líder nasce ou se faz?

Estas perguntas receberam respostas diferentes ao longo do tempo e nas diversas culturas, mas o conceito mais aceito hoje em dia é o que vê a liderança como um processo que relaciona três instâncias: o eu, o outro e o contexto.

De Gandhi a Martin Luther King, de Ford a Steve Jobs, parece haver um tipo de pessoa talhada para a função de líder. O carisma que eles exerciam sobre populações inteiras, que lhes devotavam verdadeiro fervor religioso, era um traço de sua personalidade, que os auxiliava a conquistar seus propósitos. Tanto na política quanto na vida empresarial, estes homens revolucionaram as sociedades em que estavam envolvidos e, além disso, a época em que viviam.

Realmente, a influência de Gandhi foi muito além das fronteiras da Índia: com este líder se afinam todos os que lutam pela soberania de um povo e pela dignidade do ser humano. Na mesma linha vai Luther King, que, inspirado em Gandhi, inspirou por sua vez a luta das minorias – não apenas os negros norte-americanos, mas todos os que ansiavam por igualdade de raças e credos ao redor do mundo.

Na esfera econômica e empresarial, Ford, com sua revolução no modelo de produção, e Jobs, com os personal computers, representam uma outra linha, não religiosa mas igualmente cheia de seguidores e devotos. Depois deles, o mundo não foi mais o mesmo; eles alteraram a vida de pessoas bem além de suas fronteiras geográficas: mudaram a forma de se ver o mundo.

Mas nem tudo foi devido ao carisma. Sua formação, perseverança e determinação em busca de um objetivo – que, inclusive, levou dois deles a mortes trágicas – foram igualmente fundamentais para seu desempenho como líder.

Gandhi não teria o mesmo sucesso se não soubesse embasar suas idéias na lei, advogado brilhante que era; Luther King era antes de mais nada um excelente orador e conhecedor do texto religioso; Ford era um engenheiro e administrador e Jobs, apesar de não ter feito faculdade, como ele mesmo explica no famoso discurso de Stanford, dominava uma série de informações – de programação de computadores a desenhos de letras – e tinha uma fabulosa capacidade de relacioná-las para criar algo novo.

A luta deles também não foi uma “estrada asfaltada”. Tiveram que perseverar com seus ideais, defender suas idéias quando ninguém acreditava nelas, aceitar a derrota e aprender com os erros, para superá-los. As humilhações sofridas por Gandhi na África do Sul ou por Luther King na sociedade americana formaram seu trampolim para as lutas futuras; Ford e Jobs erraram muito nas suas criações e projetos até conseguir atingir o modelo perfeito.

Mas o perfil do líder não depende somente dele. O grupo liderado também tem papel fundamental: sua maturidade, independência e visão do negócio moldam o perfil do coordenador. Para o líder poder ser democrático, delegando poderes, é fundamental ter conhecimento das habilidades dos colaboradores e confiar em sua autonomia para procurar soluções. Por isso, quando uma equipe é nova, muitas vezes o trabalho precisa ser mais direcionado; e com o tempo, o líder pode se tornar um conselheiro.

Em outros momentos, o líder também precisa se certificar que o grupo segue a linha proposta pela empresa ou pelo projeto. Não basta atingir metas, por exemplo, é preciso que o processo para atingi-las respeite determinados valores. Neste caso, o líder funciona como um orientador.

Finalmente, o líder também depende do contexto, isto é, do tempo e do lugar no qual está inserido. Ao mesmo tempo em que precisa conhecer este contexto, é necessário ultrapassá-lo, para não ser um mero repetidor da tradição.

Mulheres hoje em dia têm cada vez mais vez e voz na sociedade; suas idéias já existiam no passado, mas não eram levadas em consideração ou, mais frequentemente, não lhes era atribuído a autoria. Isso é uma evidência de como o contexto pode ser determinante para o surgimento de líderes. Quanto mais democrática e aberta for uma sociedade, maior será a variedade de seus líderes, quanto a gênero, formação e objetivos.

Por isso, para formar um líder é preciso, além de seu talento natural, alimentá-lo com idéias novas, qualificar sua equipe e criar canais de expressão dentro da sociedade ou da empresa na qual ele está inserido para que suas propostas sejam ouvidas, aperfeiçoadas e colocadas em prática.

Referências:

COVEY, Stephen. O 8º Hábito: da eficácia à grandeza. Rio de Janeiro: Elsevier; São Paulo: Frankley Covey, 2005.

MOSCOVICI, Fela. Desenvolvimento interpessoal: treinamento em grupo. Rio de Janeiro: José Olympio, 2011.

NOVO, Damáris Vieira; MELO, Edna de Assunção; BARRADAS, Mary Suely Souza. Liderança de equipes. Editora FGV, 2008.

*Texto produzido por Mônica Kalil Pires originalmente para o Grupo de Estudos de Liderança, da ABRH-RS.